Brasília, 14/11/2023 – Apesar da intensificação da operação-padrão dos servidores do Banco Central nas últimas semanas, os trabalhos do Piloto Drex – a primeira fase de testes da moeda virtual (CBDC) da instituição – não foram impactados. De acordo com participantes dos consórcios que operam na plataforma, os ensaios iniciais mostram a necessidade de se ampliar a privacidade das carteiras do real digital para que os volumes movimentados por cada banco não sejam expostos aos demais.
“O BC está muito preocupado com a questão da privacidade nas transações entre bancos, e no ambiente entre os bancos e o próprio BC. Os primeiros testes mostraram algum risco de exposição dos volumes de compra ou venda na rede. Existem duas ou três ferramentas de mercado do mundo que se propõem a fazer essa privacidade, e pode ser que uma nova seja desenvolvida aqui mesmo”, relata o CEO da DINAMO Networks, Marco Zanini.
A empresa, que desde o início dos anos 2000 fornece criptografias para o envio das declarações de Imposto de Renda para a Receita Federal, para as TEDs bancárias e mais recentemente para o Pix, faz parte do consórcio que conta com TecBan, Parfin, Foxbit e outras sete empresas. Esse consórcio é um dos 16 grupos que o BC habilitou para o Piloto Drex, iniciado em julho deste ano. De acordo com Zanini, a fase inicial é mais focada na construção da infraestrutura necessária para a movimentação da CBDC brasileira, com a instalação dos chamados “nós” na rede pela qual os bancos irão transacionar o Drex entre si e com o BC.
“A expectativa é de que comecemos a entrar nos casos de uso entre fevereiro e março de 2024, começando por testes utilizando o Drex em operações de títulos do Tesouro Nacional, mas depois expandindo para outros tipos de transações até o fim do ano. A ideia é validar tudo, verificar se a performance é adequada e garantir que não haja furos”, projeta o executivo. “Estamos muito concentrados em acertar a infraestrutura, todos os nós da rede já estão de pé, e o BC agora está estudando como garantir a privacidade”, completa.
O gerente de produtos do Efí Bank, Márcio Rosa, lembra que as redes da moeda digital também precisam operar de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), garantindo a privacidade total para todos os usuários. A instituição faz parte do consórcio da Associação Brasileira de Bancos (ABBC) no Piloto Drex.
“A criptografia começa na própria instituição financeira. O CPF ‘X’ é dono da carteira ‘Y’, e isso precisa ser protegido. É diferente de outras CBDCs em desenvolvimento, como a chinesa, que tem uma transparência para o governo sobre as titularidades dos contratos. No Brasil, isso só pode aparecer se for quebrado o sigilo fiscal judicialmente”, compara.
Integração Internacional
Embora ainda esteja em seus estágios iniciais de testes, o Drex já mira uma futura integração com outras CBDCs que vêm sendo desenvolvidas por outros bancos centrais. Nesse caso, o maior desafio é falar a mesma língua tecnológica, já que cada país tem adotado um código de blockchain diferente. No caso do real digital, a escolha do BC foi
pela Hyperledger Besu, que permite o uso em projetos controlados por um órgão regulador específico, diferentemente de outros criptoativos, como o Bitcoin e o Ethereum, que usam tecnologias sem controle central.
“Se todas as CBDCs falassem o mesmo protocolo seria mais fácil, mas isso não vai acontecer, dificilmente os países adotarão o mesmo ‘sabor’ de blockchain. Mas há o consenso de que a interoperabilidade entre plataformas precisa acontecer, e já há algumas empresas no mercado externo criando ‘bridges’ para traduzir de um modelo para outro.
Mesmo sem conversarem nativamente, é possível fazer a integração por meio desses tradutores”, avalia Zanini, da DINAMO.
Para Rosa, do Efí, o sucesso internacional do Pix deve impulsionar as tratativas para a integração do Drex com as moedas de bancos centrais de diversas regiões. “O mercado internacional olha com bons olhos o Piloto do Brasil, e temos o Pix que já é uma referência mundial. Mas a integração internacional ainda é um passo distante, que precisará de um período longo de discussão e amadurecimento, até mesmo porque o nosso conceito de CBDC é diferente de outros. O Brasil pode até adotar um protocolo distinto para a operação de câmbio com outras moedas digitais, mas, da porta do País para dentro, a nível de atacado e varejo, a tecnologia do Drex já está definida”, enfatiza.
Operação-padrão
No dia 1º de novembro, os servidores do Banco Central entraram na terceira fase da operação-padrão do órgão. O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) não descarta a possibilidade de os funcionários entrarem em greve ainda neste mês.
O movimento vem afetando diversas áreas da instituição, mas os consórcios participantes do Piloto Drex ainda não relatam qualquer problema nos testes da moeda. “Falo com o BC uma vez por semana, seja pelo Pix ou pelo Drex, e tudo tem sido normal. Alguns bancos clientes da DINAMO reclamam que etapas burocráticas de licenças e
autorizações têm demorado um pouco mais, mas isso depende muito de cada área do BC”, relata Zanini.
Rosa diz estar a par das dificuldades operacionais do BC, mas garante que até o momento não houve nenhum déficit nas atividades do consórcio do Efí no Drex. “Os funcionários do BC estão fazendo um esforço além da capacidade das equipes e os trabalhos continuam mesmo sem pessoal. Percebemos um grande esforço para manter essa agenda, está sendo árduo para eles”, reconhece.
FONTE: AGÊNCIA ESTADO – www.broadcast.com.br – Contato: eduardor.ferreira@estadao.com